domingo, 3 de junho de 2007

Texto que achei interessante e compartilho com vocês... Somos todos hamsters!

Ele troca de carro duas vezes por ano. Todo o semestre, último modelo.Dois meses depois de adquirido, quando o cheiro de novo evapora, opossante perde o encanto que, instantaneamente, é transferido para ocatálogo dos próximos lançamentos. O problema da sua mania não é ofato de comprar o que existe de mais moderno, mas fazer isso parasuprir a falta de caminho. Ele pode ter o carro que quiser, mas nenhumdeles o fará ter um lugar para ir. "Ele" é como a maioria de nós, criadores e moradores de um mundodominado pelos catálogos, vitrines. São celulares, ipods, roupas,sapatos, computadores, relógios, mulheres lipoaspiradas e botocadas,tudo constantemente se modernizando, sendo embelezado, ficando menor(em alguns casos), mais rápido, mais potente. Milhares de coisasreluzentes, bonitas, tentadoras, supérfluas. Coisas com a função maisingrata da terra: preencher nossa solidão. Os anúncios afirmam que o produto ali estampado traz mordomias,bem-estar, forno auto limpante, pára-brisa com detector de chuva, maisconforto, mais status e, conseqüentemente, aumenta nosso acesso a algoimensurável: felicidade. Mas as toneladas de anti-depressivosengolidas por todo mundo no mundo todo prova inexoravelmente ocontrário: viramos hamsters, sempre em ação, ansiosos por dar mais umavolta na roda, cada vez mais rápido, sem sair do lugar, nos cansando atroco de nada. Trabalhamos feito camelos no deserto, sempre ocupados epreocupados com o que pensam de nós, a promoção, o chefe sacana, aconta vencida, o idiota que quer nosso cargo. Para que exatamente?Morrer de câncer? Ganhar uma úlcera? Somar alguns milhares de reais euma hérnia de disco? Para termos sucesso e sermos reconhecidos na rua?Para causarmos inveja? Fama. Essa a palavra que ganhou um tom quase deificado. Mas, por maisque me esforce, não entendo a correlação que corrobora a tese de quealguém famoso vale mais do que o atendente da padaria (veja só o quenos tornamos: valoramos uns aos outros como um saco de batata frita naprateleira)? Se fama é passagem só de ida para a felicidade, porqueraios o Kurt Cobain, a Marilyn Monroe, Elvis Presley e tantos outrosderam cabo a tal alegria imensurável? Porque, no final das contas, nofinal do dia, fãs histéricas gritando na porta do hotel, foto em capade revista e aparecer na novela das oito não dá colo, não faz cafuné,não entende suas tristezas, não diz palavras que aquietam a mente. Emalguns momentos, não serve pra nada. Às vezes acho que o mundo seria um lugar bem mais aprazível se aspessoas coçassem mais o saco, tivessem tempo livre o suficiente parachegar a conclusão de que a única coisa que realmente importa éausência de agonia, essa companheira tão presente ultimamente e queinsiste em não ir embora.
Escrito por Ailin Aleixo

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